Em 2007, quando resolvi deixar de lado o Orkut e criar uma conta no então moderno e inovador Facebook, não imaginava que, onze anos depois, a plataforma estaria envolvida em tantos escândalos. Ao longo dos anos, o Facebook se tornou um dos maiores bancos de dados pessoais que já existiu, e se no início a rede social ficou conhecida pela possibilidade de conectar pessoas, hoje, a sua maior função também é a sua maior dor de cabeça.

Nesta semana, o jornal The New York Times relatou como a direção do Facebook ignorou e minimizou os alertas de escândalos envolvendo a atuação de hackers russos e o vazamento de dados durante as eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2016. Isso inclui erros de gerenciamento de crise durante o escândalo da Cambridge Analytica e outras controvérsias.

O NYT falou com mais de 50 pessoas, incluindo atuais e ex-funcionários do Facebook, que detalharam os esforços da empresa para conter, negar e desviar as histórias negativas que surgiram.

Atividade do Kremlin na rede social era conhecida

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Entre as alegações, talvez a mais prejudicial venha de um especialista em guerra cibernética russa do Facebook. O especialista afirma que os principais executivos da gigante de mídia social, incluindo o CEO Mark Zuckerberg e a COO Sheryl Sandberg, sabiam sobre a atividade do Kremlin no Facebook desde 2016.

Mark Zuckerberg negou isso em seu blog oficial. Porém, em março de 2017, a empresa relatou que 126 milhões de usuários do rede social foram expostos a anúncios com links russos, informações erradas e contas falsas. Essa propaganda, como sabemos agora, foi usada para manipular e criar discórdia entre os eleitores norte-americanos.

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Liberdade de expressão vs. avanço de postagens ofensivas

Outra informação divulgada pelo NYT é a de que o Zuckerberg havia pedido que funcionários verificassem se um post no perfil do então candidato à presidência Donald Trump feria os termos de uso da rede social. Na ocasião, Trump falava sobre “barrar muçulmanos” na fronteira do país. O Facebook nega que o debate em torno desse caso tenha sido diferente em comparação com qualquer outro caso de posts polêmicos.

Contudo, na quinta-feira, Zuckerberg anunciou que o Facebook vai reduzir o alcance de conteúdo sensacionalista e provocativo, como postagens que não entram na definição de discurso de ódio da rede social, mas que ainda são ofensivas. Seria essa uma reação tardia à publicação de Trump?

Eleições 2018 no Brasil

O Facebook está na berlinda há muito tempo, são pelo menos dois anos trabalhando na contenção de crise e nenhuma ação parece ter resultado efetivo. A prova disso é que, depois de reconhecer os problemas que aconteceram nas eleições norte-americanas, a empresa afirmou que trabalharia para evitar este tipo de ação de hackers e distribuição de notícias falsas no futuro. Mas não foi isso o que vimos acontecer no Brasil, durante as eleições.

Em setembro, o grupo “Mulheres unidas contra Bolsonaro”, que reuniu mais de 2 milhões de mulheres em poucos dias, foi hackeado e os dados de algumas das administradoras do grupo foram comprometidos. Na ocasião, o Facebook optou por remover o grupo temporariamente após detectar atividade suspeita. Isso mostra o quanto a plataforma está exposta à ação de criminosos, fazendo que os seus usuários não estejam seguros.

Facebook quer agradar a gregos e troianos

O Facebook é um espaço que respeita a opinião de todos. O Facebook é uma plataforma para distribuição de anúncios. O Facebook é um lugar para conectar famílias e amigos. O Facebook é onde as pessoas se informam. O Facebook quer ser muita coisa diferente ao mesmo tempo e, historicamente, sabemos que não se pode agradar a gregos e troianos.

Não pretendo entrar na polêmica sobre o que é e o que não é discurso de ódio, ou a que grupo econômico e político a plataforma deve servir. Contudo, os fatos são públicos e estamos vendo o gargalo ficar cada vez mais estreito para a empresa. Assim, ou o Facebook toma uma posição clara em relação aos seus termos de uso, ou o futuro da rede social estará comprometido.

Os dados dos usuários são a moeda de troca da empresa de Zuckerberg, e cada vez mais pessoas estão optando por sair da rede social. Entretanto, o que pode realmente pressionar o Facebook a repensar segurança e tornar a rede social mais transparente, são as empresas que pagam pelo espaço publicitário. 

A equipe de marketing da multinacional britânica Unilever já informou que não pretende utilizar ambientes “que criam divisão na sociedade e promovem a raiva ou o ódio”. Logo, a Unilever não deveria usar o Facebook. No auge do escândalo da Cambridge Analytica, Elon Musk removeu as páginas da Tesla e da SpaceX do Facebook. Aqui no Brasil, a Folha de São Paulo, um dos jornais de maior circulação do país, já não publica mais conteúdo na rede social.

Com todo o desgaste do Facebook, é provável que a solução para essa crise não venha das mãos da empresa, mas de suas parceiras, pois não dá para agradar a todos… ao mesmo tempo.